"Tenho um espírito de criança, de menino." Com 40 anos completados neste ano, é assim que Rafael Ilha se define, mas é um homem com muito para contar. E com pouca vontade de esconder.
O que "deixa para lá", aliás, faz questão de dizer que poderá ser visto no livro autobiográfico que será lançado em fevereiro de 2014 em parceria com a jornalista e apresentadora Sônia Abrão , que considera mais que amiga. "Costumo dizer que é minha mãe", derrete-se.
Antes de o livro chegar às livrarias de todo o Brasil, o ex-Polegar e produtor de TV conversa com QUEM e faz um passeio pela própria vida. Fala sobre o estouro do Polegar, o susto pessoal ao se deparar com as drogas, a depressão que sofreu que o levou a tentativa de suicídio, em 2009, as emoções que vive com o filho, Cauã, de 10 anos, a relação com Aline e até os sonhos que quer realizar, entre eles ter mais uma criança. Veja como foi:
QUEM: Ter completado 40 anos te assustou de alguma forma? O que mudou?
Rafael Ilha: Acho que eu, como qualquer ser humano e independente de ter 40 anos, estou sempre em evolução em todos os sentidos: maturidade, de sentimento, espiritual, como ser humano. Cada dia que passa e que vive, acabamos evoluindo.
Uma grande mudança na minha vida começou aos 30. Mais ou menos um pouco antes do meu filho nascer. Agora é 4.0. Tenho um espírito de criança, de menino. Independente de ter 40 anos, sou um cara muito brincalhão, muito alegre.
QUEM: Tem medo da idade?
RI: Acho que a gente está sempre se assustando. Daqui a pouco se está com 15, 30, 40 anos. A primeira vez que senti foi quando um amigo do meu filho me chamou de tio. Aí foi engraçado.
QUEM: De lá para cá, quais formam os momentos mais desafiantes para você?
RI: Acho que um momento que marcou a minha vida foi quando parei, quando consegui me livrar do vício do crack. E, depois, foi quando veio meu filho.
QUEM: O que aprendeu com eles?
RI: Aprendi que tenho uma vida maravilhosa. Não tenho outras palavras. Era uma situação que eu tava de dependência, até eu mesmo não acreditava que poderia sair daquilo, de tão afundado que eu estava. Não só eu, mas como todas as outras pessoas que estavam ao meu redor e que acompanharam a minha situação, minha vida. Foi um momento muito marcante a volta por cima. Isso foi muito bacana.
QUEM: O que você guarda na memória dos tempos que você era cantor e fazia parte do Polegar?
RI: Acho que o Polegar foi um empurrão na minha carreira. O mais marcante foi quando entrei, quando ele lançou e foi aquele sucesso. O que marcou bastante também foi o primeiro disco de ouro - recebido em 1989, pelo álbum de estreia.
QUEM: Como foi a repercussão?
RI: A gente trabalhou bastante. Entrei quando tinha 13 ou 14 anos e passei quase 2 anos preparando para o lançamento. Foi uma expectativa muito grande. Ficamos pensando se ia fazer sucesso ou não. Foi legal. Tenho duas páginas no Facebook e é muito legal as pessoas da minha idade e um pouco mais novas que eu interagindo e estando na vida delas. Dou a maior atenção para os meus fãs. É engraçado. Mãe e pai que curte, que marcou a vida deles. Isso não tem preço.
QUEM: Você já disse mais de uma vez que quem te ajudou bastante foi a jornalista e apresentadora Sonia Abrão. O que significou a presença dela na sua vida?
RI: Recentemente, estava com ela resolvendo uma situação do livro e até brinquei com isso. Conheço a Sonia há mais ou menos uns 28 anos, da época da Rádio Captial, quando ela era radialista. É uma amiga e tem sido até mais que uma amiga: tem sido uma mãe mesmo. Uma pessoa que sabe de tudo na minha vida. Tem coisa que ela sabe e ninguém mais sabe.
Ela, e os irmãos dela, Elias e Margareth, me deram a oportunidade de trabalhar com eles. Apostaram no escuro, no final de 2009, quando tive aquelas crises de depressão e uma tentativa de suicídio. Mas sem saber se eu ia continuar bem, se teria outra crise de depressão, cair, se faria alguma coisa. Era a espontaneidade e, graças a Deus, ficaram muito felizes e me dão forças até hoje. Tenho certeza que estou retribuindo toda a confiança que a família Abrão teve em mim.
QUEM: Como superou a depressão depois da última internação, em 2009?
RI: Além da minha determinação, arrumei força com a oportunidade que me deram, foi a força do amor que tenho pelo meu filho. Tudo isso. Principalmente a oportunidade de ter um recomeço com uma coisa que sempre gostei de trabalhar que é a TV. Trabalho com TV há 33 anos. Foi muito bom para mim.
Entrei na depressão justamente porque a mãe do meu filho, por questões financeiras, não queria deixar eu ver ele. Não era que eu não estava contribuindo com minhas obrigações. O problema é que ela queria extrapolar. Então, ela proibiu de ver meu filho, mas isso já foi resolvido.
QUEM: Você chegou a responsabilizá-la pela depressão?
RI: Não. Ela contribuiu bastante, mas, graças a Deus, tudo isso já foi superado.
QUEM: O que você diria para outras pessoas que passaram por depressão?
RI: Juro para você: tive clínica e tudo e nunca pensei na minha vida ou tive ideia o que era uma depressão. Foi uma coisa que foi somando dentro de mim. Uma tristeza, coisas que estavam acontecendo em relação ao meu filho, principalmente em relação a ele. Foi acumulando e naquele dia que cometi o suicídio que entendi a depressão e acabou de uma forma triste. Mas, graças a Deus, deu tudo certo.
Não estou falando como um médico, mas com a experiência que tive. Acho que o certo é conversar. Quando a coisa não está muito bem, é procurar ajuda especializada. Procurei e passei um mês e meio internado e tratando da depressão, saí no final de 2009, em dezembro. Em janeiro, já estava com o acompanhamento de uma profissional, de uma terapeuta. Frequentava duas vezes por semana.
É trabalhando, pondo para fora tudo o que te incomoda. Tudo o que o deixa triste. Você vai acumulando e, talvez, vai armando uma bomba dentro de você. O melhor é procurar ajuda e isso necessita do apoio de algum tipo de medicação. Hoje, eu já não tomo nada. Não deixo mais sentimentos ruins, tristezas, dificuldades. Não acumulo mais dentro de mim. Divido com alguém, com certeza.
QUEM: Você chegou a abrir uma clínica de reabilitação. Por que decidiu fechar?
RI: Foi exatamente na época que me separei e não fiquei bem com a situação do meu filho e acabei fechando e perdendo vontade de continuar com o trabalho.
Eu me separei da mãe do meu filho e ela começou a impor dificuldade. Ela queria fazer chantagem principalmente financeira e eu não ia ceder a isso. Acabou com ela me proibindo. Tive que ir à justiça e requerer esse direito. Só que a justiça é lenta e eu fiquei muito tempo sem ver meu filho, meses.
QUEM: Tem vontade de reabrir uma clínica no futuro?
RI: Acho que, por enquanto, não penso nisso porque é um trabalho que você realiza durante sete dias por semana e 24 horas por dia. Trabalhava muito, ganhei muito dinheiro, mas foi um trabalho que me desgastou muito e, no momento, não quero isso para minha vida. Quero curtir meu filho, quero continuar com meu trabalho que adoro, que é essa parte de repórter e produtor do programa. Acho que nem para agora e nem para frente. Eu quero me aposentar aos 50 anos (risos).
QUEM: Há alguns anos para cá, tem-se intensificado a discussão sobre legalização da maconha. Qual sua opinião sobre esse assunto?
RI: É complicado. Não sei até que ponto isso é bom ou é ruim. Acho que já está legalizada. O que eles querem? Vender maço na padaria? Não sei... Será que vira isso para o nosso país? Um país que não tem fiscalização, não tem nada sério. Onde a maioria das pessoas, funcionários públicos são corruptos. Ninguém vai preso com maconha... Então, já está legalizado.
Não tem a lei do álcool? É proibido vender álcool e cigarro para menores de 18 anos, mas se vê menores bebendo sexta e sábado à noite, fumando e não tem qualquer tipo de fiscalização. Se vai legalizar, será para maior de idade? Não vai acontecer isso. A gente vai ver nossos jovens e adolescentes fumando. Sobre a maconha, ficam com esse papinho de é natural. Não é isso. As maconhas hoje são potencializadas com produtos químicos. Então, a maconha querendo ou não está legalizada. Você passa em qualquer lugar em São Paulo, no trânsito e vê gente fumando maconha no carro, na rua.
Isso é conversa para boi dormir, gente que não tem o que fazer. Vai lá querer legalizar e faz a marcha da maconha. Vai ver a marcha e tem 300 jovens e adolescentes querendo a liberação. Para que? Olhar para a cara do pai e da mãe e dizer: "Hoje, eu posso fumar na sua frente porque é legalizado". Quem fuma maconha mesmo e curte há muitos e muitos anos, não está na rua brigando pela legalização e liberação. Está na casa dele.
QUEM: Como tem acompanhado esses manifestos, que começaram em junho? Acha que eles são legítimos?
RI: Acho legítimo. Só que tudo começou por causa dos centavos do ônibus. Mas, agora, tudo leva a protesto. Acho que está meio que uma coisa palhaçada. Começou pelos 0,20 centavos, mas acho que aquilo tinha que devia ser, de repente, para o aumento do salário mínimo. Vamos para o Brasil!? Vamos. "Mas os 20 centavos foram os estopim". Mas não poderia ter feito aquilo tudo e aumentado o salário mínimo? Para R$ 850 reais. Valeria mais a pena. Para os professores, os profissionais da educação.
QUEM: Lutar por uma polícia, mas efetiva e correta?
RI: Estava conversando a semana passada com minha esposa sobre isso. A polícia hoje é a maioria corrompida. Não só a civil, mas a militar também. Por que corrompida? È porque o policial civil R$ 2,5 mil, R$ 2,7 mil por mês?! A militar ganhar R$ 1,8 mil , R$ 2mil, mais benefícios? Para trabalhar sem um colete a prova de balas decente, sem uma arma decente? O cara vai ali, ganha R$ 2mil. vai o cara do tráfico, de facção, dar R$ 10 mil por mês só para passar informação. Pede isso e aquilo para comprar arma. O policial tem filho para cuidar, tem família. Infelizmente é assim, polícia também deveria ganhar melhor.
QUEM: Eles conseguem fiscalizar bem o tráfico de drogas ou não?
RI: Não. Não conseguem. Com esse policia que a gente tem hoje a gente combate o "mínimo". No Brasil infelizmente não tem essa capacidade de combater.
QUEM: Como você tem noção disso?
RI: Já, na minha vida já tive dentro desse mundo, o do tráfico. É a civil corrompida, é a militar corrompida, e o delegado corrompido. Então, é muito dinheiro. O tráfico é uma coisa que dá muito dinheiro. O dinheiro compra. Infelizmente, no Brasil compra qualquer pessoa, até políticos.
QUEM: Quando e como você saiu do tráfico?
RI: Sai quando não deu mais. Minha vida de quase 2 anos envolvido com isso. Quando saí eu até fiquei perdido porque fiquei muito envolvido nisso. Mas essas coisas eu não quero entrar muito em detalhes porque está no meu livro. [risos]
QUEM: Você tem um filho, Cauã, de 10 anos (fez em maio). O que você tem ensinado a ele?
RI: Eu amo meu filho demais. Sou um cara que sou pai e mãe dele. Então é complicado. Eu é que cuido de tudo da vida dele, em todos os sentidos. a financeira 100%. eu amo meu filho. Ele é uma das razões de tudo o que eu faço na vida. principal razão em atitudes, de decisões. Em tudo. Ele é uma figura, um pilar muito importante.
QUEM: O que tem aprendido?
RI: Ensino bastante, mas aprendo a cumplicidade da coisa. A grandiosidade de um amor, de um vínculo de pai e filho. Esse amor puro, incondicional. É uma coisa muito louca, é uma ligação muito forte. Aprendi com ele que a vida é maravilhosa.
Passo tudo para ele o que aprendi de droga, inclusive. Faço um trabalho de prevenção. Eu posso dizer que meu filho nunca vai usar droga. Faço um trabalho de prevenção. Ele sabe tudo o que eu passei, de minha história, da dependência, de tudo. E ele é muito inteligente. Ele sabe mexer no computador, tem acesso a Internet, ele sabe como foi e como é a minha vida. Eu fiz um trabalho de prevenção, mas a decisão será só dele.
QUEM: Você fala sobre seu filho sempre com bastante carinho. Como que ele o emociona?
RI: Toda a vez que estou com ele tem algum momento de emoção. Quando ele passa o final de semana comigo, ele tem o quarto dele, mas deixo ele dormindo comigo e com minha esposa. Então, um abraço dele dormindo, um sorriso, um beijo. Tudo isso me emociona nele. o amor que ele tem por mim. Ele sabe todo o amor que eu tenho por ele e entende isso muito bem.
QUEM: Como é a relação de você com sua namorada, a Aline?
RI: É ótima. A relação deles é ótima. Ele ama ela de paixão, e ela é muito brincalhona. Joga bola com ele, joga vídeo game com ele, ela interage muito com ele. E ele ama ela. É muito bom, graças a Deus.
QUEM: Como você e a Aline se conheceram e começaram a namorar?
RI: A gente está junto desde a primeira semana de janeiro. Mas a gente se conhecia há uns 3 ou 4 anos. Só que eu era casado, ela também. A gente se falava bastante. No ano passado eu me separei, e a gente se reencontrou no Facebook, começamos a conversar. Eu já tava separado, ela estava ruim no casamento dela também. No final do ano passado ela se separou e a gente ficou junto.
QUEM: E vocês dois. Quando sai casamento?
RI: Casamento!? A gente já está casado, né?!
QUEM: Mas pensam em fazer alguma vez, se casar no cartório?
RI: Eu estava conversando com ela, que toda a vez que casei no papel deu zica. Eu casei duas vezes. Não queria casar no papel não. Penso sim em fazer uma festa um dia, mas não dissemos quando e nem nada. Só pensamos em uma festa, uma coisa com um benção católica, alguma coisa assim. Mais nada. Mas sem papel. [risos] Sem assinar nada.
QUEM: Planejam ter um filho daqui para frente?
RI: A gente tem vontade sim. Ela não tem filhos ainda e tem vontade. Mas a gente está deixando acontecer naturalmente, na hora certa. Mas eu quero sim, ter mais um filho ou uma filha.
QUEM: Cauã pede um irmão?
RI: Ele gosta da ideia. Ele não pede porque ele já tem uma irmã por parte de mãe, de um relacionamento que ela teve anterior ao nosso. Já conversei com ele o que eu quero e ele aceita de boa.
QUEM: Quando você era bem novinho, você tinha um relacionamento com a Cristiana Oliveira. Vocês mantiveram a amizade? Como estão hoje?
RI: Não somos amigos. A última vez que a vi foi quando a gente se separou. Só a reencontrei ano passado no enterro da assessora do Roberto Carlos [Ivone Kassu morreu em julho de 2012 ]. E eu fui no sepultamento dela acabei encontrando Cristiana lá. Super de boa, conversamos e me tratou com educação. Na época, ela tinha descoberto que a Rafaela estava grávida, que ia ser avó e a gente bateu um papo rápido.
QUEM: Você contou que ia fazer um filme e o livro, com o título O Anjo do Inferno. Como andam esses dois projetos?
IR: O título vai mudar provavelmente, mas não posso falar e nem dar detalhes do livro. Me reúno com a Sonia uma vez por semana. Quando não dá para se reunir, eu envio as infos por email e está rolando. Vai ser um livro com muita coisa que as pessoas não sabem ou que tem a mínima ideia. Com esclarecimentos francos e sinceros. Ele vai ter quase 300 páginas, com fotos inéditas e ilustrações e será lançado em fevereiro em março do ano que vem.
QUEM: Rafael Ilha volta a cantar?
IR: Só em videokê [risos]. Eles queriam, em uma época com essa onda de anos 80, fazer alguma festa de final de semana com o Polegar. Não quis. É uma coisa boa e que faz parte do meu passado. Não é uma coisa que está aí fazendo parte do meu presente. Mas também não é uma coisa mal resolvida. É apenas uma época da minha vida que já passou e não tenho mais vontade também. Hoje é muito difícil o trabalho de cantor e músico. Hoje não é mais aquela coisa ainda que tinha nos anos 80. tocava na rádio porque o público gostava, o radialista lançava e estourava. Agora é jabá. Participar de programas de TV significativos precisa pagar. Tocar na rádios precisa pagar. E é muito alto. São poucos os artistas que conseguem manter essa estrutura de divulgação da música popular brasileira hoje que funciona em nosso país.
QUEM: Próximos sonhos para daqui a 40 anos?
RI: Quero, primeiro, continuar meus próximos 40 anos muita saúde, paz, muito trabalho. Sou uma pessoa muito ativa. Que possa ajudar meu filho a crescer em todos os sentidos. Cuidar onde puder dele. Ter mais um filho. Ser feliz.
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