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A beleza e a dor dos games antigos estão de volta em Streets of Rage 4

Seja rápido nos controles!
Seja rápido nos controles! Divulgação/SEGA

Prepare seus braços. Seus reflexos. Sua resiliência e paciência para lidar com sucessivos fracassos. Todos essa torrente de sentimentos conflitantes é a alma de Streets of Rage 4, o novo jogo de um estilo — beat 'n up — que se recusa a morrer.

Há 30 anos, games eram bem diferentes. Jogados em bares sujos ou salas de shopping, locadoras ou na casa do seu amigo rico — a não ser que você fosse o amigo rico da vizinhança. Nos anos 90, games eram uma subcultura vasta e pano de fundo de guerras ferrenhas entre jovens, que se reuniam em fliperamas, compravam dúzias de fichas, mostravam habilidades próprias, sabiam segredos obscuros, brigavam por qualquer migalha de informação, mesmo as falsas.

Dentro dessa cultura se destacavam os games beat 'n up. Por um motivo básico: eles eram perfeitos. Difíceis, feitos para ser jogados em dupla ou até mais pessoas, exigiam habilidades motoras, além do fato de lidar com eles ser um teste de proficiência que valia ser contado até para seus pais, que nem sabiam que assunto era aquele.

Eles representavam uma série de mecânicas que envolviam deixar jogadores alimentando máquinas de fichas, presos em games que carregavam dentro de si técnicas para viciar e desafiar, mais ou menos como cassinos. Todos os beat 'n up são praticamente iguais: andar para a direita, bater em inimigos cada vez mais difíceis, pegar armas, procurar itens de recuperação, lidar com chefes complexos, poderosos e com poderes próprios.

Foi assim com clássicos como Cadillacs and Dinosaurs, Final Fight, Golden Axe, Captain Commando, Double Dragon e vários Tartarugas Ninja. Então, o que conta em cada jogo do tipo são coisas quase subjetivas, mas que derivam de escolhas bastante objetivas dos desenvolvedores: um certo charme dos personagens que consiga transparecer em cenas com diálogos risíveis, um balanceamento entre dificuldade e satisfação, beleza estética.

Basicamente, isso é Streets of Rage 4. Jogar esse game nesse momento transcende simplesmente enfrentar um jogo. É um tipo de experiência que soa melhor fora de seu contexto cruel. Saem os ambientes competitivos das jogatinas públicas dos fliperamas, entram os rankings online e as pontuações e troféus que ficam gravadas em sua conta. Longe da pressão por fazer valer as fichas, a experiência me parece bem melhor.

É possível rir dos diálogos saídos diretamente dos filmes de ação dos anos 80, fazer combos inimagináveis, clamar por mais vidas sem parecer um bobo sem habilidade e testar todos os personagens até descobrir o que mais se adéqua ao seu estilo.

Se pensarmos que Streets of Rage 3 é um jogo de 1994, provavelmente a decisão mais importante na cabeça dos produtores (DotEmu e SEGA) envolveu manter o mesmo estilo ou modernizar a franquia. Com a infinidade tentadora de penduricalhos disponíveis para tornar um jogo mais bonito, é impressionante como os desenvolvedores mantiveram o espírito de seus predecessores, com melhorias visuais (tudo está belamente cartunesco aqui) e a possibilidade de convidar alguém para jogar online.

No mais, o jogo mantém o melhor da franquia e adiciona uma certo ritmo frenético. Como os melhores games da época, você aprenderá perdendo em vários momentos. Não há muito tempo para respiro: com poucos minutos você aprenderá todos os movimentos do seu personagem, mas só se tornará fera com os combos após ver vários "Game Over" e pensar "Olha, poderia ter aplicado um combo de corrida aqui" ou "Deveria ter pego aquela granada e jogado". Errar um encaixe ou a direção de um soco é um convite à derrotas humilhantes.

Divulgação/SEGA

Além de aprender suas próprias habilidades, é sumamente necessário aprender as habilidades dos inimigos. Alguns sempre te acertam se tentar dar chutes, outros defendem qualquer arma lançada, outros sempre andam portando facas, outro dá uma barrigada mortal, alguns jogam armas específicas. Em vários momentos, você enfrentará combinações insanas de todos eles. Se você viveu aqueles tempos, o jogo lembrará que seus músculos ainda estão prontos para enfrentar hordas de arruaceiros e terroristas baratos.

Mais do que um jogo, Streets of Rage 4 carrega em si a beleza de todo um gênero. Por motivo óbvios, os beat 'n up não serão os games mais populares do mundo em nossa época, mas possuem uma história única, recheada de charme e beleza — e dor. Ao final de cada jornada, você não se lembrará da história, mas sim de seus combos de dezenas de hits, combinações de golpes malucos e de como seus músculos pareciam agir antes de você sequer pensar.

Não se esqueça que os games nasceram daí.

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